Efeito Trump faz dólar disparar no Brasil e encosta em R$ 6
O Brasil amanheceu nesta segunda-feira (31) sob o impacto direto da política econômica de Donald Trump. O dólar comercial ultrapassou os R$ 5,93 ao longo do dia, atingindo o maior valor desde janeiro de 2022. O motivo? A volta da retórica protecionista do ex-presidente dos Estados Unidos, que já anunciou, em campanha, que vai ampliar tarifas contra importações, especialmente da China.
Essa escalada alimenta temores de uma nova guerra comercial global, como a que marcou seu governo anterior. Para países emergentes como o Brasil, o reflexo é imediato: fuga de capitais, valorização do dólar, instabilidade nos mercados e pressão inflacionária.
O movimento foi impulsionado por investidores internacionais que buscam segurança no dólar em tempos de incerteza. Ao mesmo tempo, os efeitos indiretos da disputa entre EUA e China atingem em cheio o Brasil, já que o país é grande exportador de commodities e depende do bom funcionamento do comércio global.
O impacto no Brasil
A valorização do dólar encarece produtos importados, pressiona os preços internos e aumenta o custo de vida, principalmente dos mais pobres. A indústria também sente, pois boa parte das máquinas, insumos e tecnologias utilizadas no país vêm de fora. A conta chega para todos.
Com o dólar se aproximando perigosamente dos R$ 6, o Banco Central brasileiro pode ser obrigado a agir, vendendo reservas ou subindo os juros — o que prejudica ainda mais o consumo, o crédito e o crescimento econômico.
E o mundo? O “Efeito Trump” planeta afora
A reentrada de Donald Trump na cena global já começa a provocar tremores não apenas no Brasil, mas nos principais centros econômicos do planeta. Ao adicionar tarifa de importação em 50% sobre produtos chineses e revisar acordos comerciais estão redesenhando o tabuleiro geopolítico.
China: O maior alvo do discurso protecionista de Trump. Pequim já ratalia com tarifas de 34%. Uma nova guerra comercial entre as duas maiores potências do mundo está prestes a acontecer. Trump ameaçou China com tarifa total de 84% caso não retire a retaliação de 34% sobre os produtos americados e caso China persista poderá desacelerar o crescimento global e romper cadeias de produção que hoje são extremamente interdependentes.
União Europeia: O bloco teme uma onda de tarifas sobre carros e produtos agrícolas. Com economias estagnadas e inflação ainda resistente, a Europa não tem muito espaço para manobras. Um confronto comercial com os EUA pode minar ainda mais sua recuperação.
México e Canadá: Vizinhos e parceiros do acordo USMCA (que substituiu o NAFTA), também estão em alerta. Trump já havia falado em reescrever o pacto novamente se reeleito. A instabilidade pode espantar investidores e afetar a indústria automobilística, extremamente integrada entre os três países.
Japão e Coreia do Sul: Fortes aliados dos EUA, mas exportadores natos, também sofrem com tarifas. As medida contra a Ásia como um todo tende a respingar nessas economias, especialmente nos setores de tecnologia e veículos.
Mercados emergentes em geral: Países como Índia, Indonésia, África do Sul e outros da América Latina enfrentam a mesma tormenta que o Brasil: desvalorização cambial, fuga de capitais e aumento da pressão inflacionária. Com menos musculatura para enfrentar choques externos, esses países sofrem antes e se recuperam por último.
Mercados asiáticos em alerta: bolsas afundam com temor de nova guerra comercial
O efeito dominó das declarações e promessas de Donald Trump chegou com força à Ásia. As principais bolsas da região despencaram nas últimas horas, reagindo ao temor de uma nova escalada na guerra comercial entre Estados Unidos e China.
O índice Hang Seng, de Hong Kong, caiu 13,22%, refletindo a fuga de capitais e a pressão sobre empresas de tecnologia e exportadoras. Já o Shanghai Composite, da China continental, recuou 7,34%, pressionado pelas incertezas em torno do comércio internacional e pela possível retaliação chinesa às medidas dos EUA.
No Japão, o Nikkei 225 registrou queda de 7,83%, apagando parte dos ganhos acumulados no ano. Fabricantes de automóveis e eletrônicos — gigantes como Toyota, Sony e Panasonic — foram fortemente penalizados. Investidores temem sanções diretas ou indiretas que prejudiquem as exportações para os Estados Unidos, um dos principais mercados desses conglomerados.
Coreia do Sul e Taiwan também viram suas bolsas derreterem, com o Kospi e o Taiex fechando em queda a 5,57% e 9,70% respectivamente. A cadeia global de semicondutores — da qual esses países são peças-chave — sofre com a ameaça de mais sanções cruzadas entre EUA e China, o que pode desorganizar ainda mais o setor.
Na onda tsunami Trump
Entre altas e baixas tortuosas ao longo desta segunda-feira, o Ibovespa terminou o dia com baixa de 1,31%, aos 125.588,09 pontos, uma queda de 1.667,91 pontos, o que demonstrou investidores perdidos em sua posições.
O que causou tantos altos e baixos além do que já é sabido pelos investidores foram novas notícias sobre as tarifas anunciadas pelo governo Trump. Mais cedo, os mercados asiáticos desabaram, mas tudo piorou quando Trump disse que se China não voltasse atrás com suas tarifas retaliatórias, os EUA iriam impor tarifas adicionais de 50%. E completou: “todas as conversas com a China sobre as reuniões por eles solicitadas serão encerradas!”.
Com isso, apesar de já precificar recessão nos EUA, apontou Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP. “Não houve essa notícia, pelo contrário, o próprio Secretário do Tesouro, Scott Bessent, veio a público dizer que não tinha motivo de rever as tarifas”, comentou. “Parte do mercado ainda precifica que essas tarifas não vão em frente, mas caso ela sigam, o mercado poderá cair ainda mais. Mas o fato é que o cenário de recessão já começa a ir para o preço (dos ativos)”, destacou.
Reflexão final
A ironia é que o Brasil sequer está no centro do conflito, mas acaba atingido em cheio. A volta de Trump ao protagonismo global mostra que decisões tomadas lá fora continuam ditando nosso presente e futuro aqui.
Até quando seremos reféns da instabilidade alheia?
Enquanto isso, seguimos no modo sobrevivência, torcendo para que a diplomacia vença a arrogância e que o mundo, enfim, volte a girar com mais diálogo e menos imposição.
