A divulgação do IPCA nesta sexta-feira (11) trouxe à tona um velho fantasma com nova roupagem: a inflação espalhada, presente em quase todos os setores da economia. O índice oficial de preços do Brasil subiu 0,56% em março, conforme divulgado pelo IBGE, e acumulou uma alta de 4,39% em 12 meses — número que reacende o alerta de economistas, investidores e, sobretudo, da população.
O que preocupa não é apenas o número em si, mas a sua composição. Segundo especialistas ouvidos pela CNN Brasil, a inflação está “disseminada”, ou seja, espalhada por diversos grupos de produtos e serviços, indicando que o problema é estrutural e tende a continuar pressionando os preços nos próximos meses.
De onde vem a pressão?
Entre os vilões do mês estão:
- Alimentação e bebidas, que subiram 0,84%,
- Transportes, com avanço de 0,43%, e
- Saúde e cuidados pessoais, que tiveram alta de 0,72%.
A elevação dos combustíveis e dos alimentos — itens de alto impacto no orçamento popular — pesou particularmente sobre os mais pobres. Além disso, a alta dos planos de saúde e medicamentos indica que nem mesmo áreas tradicionalmente reguladas escaparam da onda inflacionária.
Efeito externo e o fator Trump
Analistas destacam que o Brasil também sofre reflexos do cenário internacional, em especial da política econômica de Donald Trump nos Estados Unidos, que voltou a impor tarifas comerciais, pressionando os preços globais. O chamado “efeito Trump”, já sentido no câmbio, contribuiu para a alta do dólar e, por consequência, encareceu produtos importados e matérias-primas.
A valorização do dólar tem efeito cascata sobre a inflação brasileira. Produtos cotados em moeda estrangeira, como combustíveis e insumos agrícolas, ficam mais caros. Resultado: o custo de vida sobe, e o poder de compra das famílias recua.
O que esperar do futuro próximo?
O mercado já antecipa que o Banco Central terá que reavaliar a trajetória de queda da taxa Selic, caso o IPCA continue subindo com essa intensidade. Por enquanto, a autoridade monetária aposta que a inflação se alinhe à meta até o fim do ano. No entanto, o comportamento recente do índice sugere que essa expectativa pode ser excessivamente otimista.
Uma pressão sentida no cotidiano
Para quem vai ao supermercado, à farmácia ou abastece o carro, a estatística vira realidade palpável. A inflação disseminada não ataca apenas um setor específico, mas corrói silenciosamente a renda em múltiplas frentes. E isso afeta mais fortemente os trabalhadores com renda mais baixa, que gastam a maior parte do salário em alimentação e transporte.
Reflexão
Se o IPCA de março trouxe um retrato técnico, o que vemos é um país em alerta. A economia, mesmo em recuperação, caminha com tropeços. A combinação de fatores internos e externos impõe desafios que vão além da política monetária. Trata-se de um momento que exige atenção, diálogo e coragem para enfrentar as causas estruturais da inflação brasileira — inclusive aquelas importadas, que hoje vêm embaladas em discursos protecionistas e decisões de impacto global.
Por Viomundo.press