Eliana Capuano
Com a aproximação das eleições presidenciais nos Estados Unidos, um velho conhecido dos mercados financeiros vinha assombrando os investidores: Donald Trump. O então ex-presidente, que liderava as pesquisas republicanas, vinha intensificando o discurso protecionista que marcou sua primeira passagem pela Casa Branca — e isso estava provocando calafrios em Wall Street.
Eis que o temor de Wall Street se realizou, Trump implementa uma nova rodada de tarifas sobre produtos estrangeiros, com foco especial na China. A ideia é, mais uma vez, fortalecer a indústria americana e reduzir a dependência externa. Mas os efeitos colaterais disso podem ser profundos e já começou na superfície
Um déjà-vu perigoso
Durante seu primeiro mandato, Trump iniciou uma guerra comercial com a China que gerou incertezas e volatilidade nos mercados. As tarifas aumentaram os custos para empresas e consumidores, afetaram cadeias globais de suprimento e frearam o crescimento global. O mesmo receituário, aplicado agora, pode ter um impacto ainda mais severo — especialmente em um contexto de inflação ainda sensível e juros altos nos Estados Unidos.
“Com este tsunami tarifário a inflação pode voltar a subir, forçando o Fed a manter os juros elevados por mais tempo. Isso não é bom para os lucros corporativos nem para o apetite dos investidores por risco”, comentou um analista do Goldman Sachs em nota recente.
Wall Street em estado de alerta
Apesar do bom desempenho das bolsas americanas em 2024 — impulsionadas sobretudo pelas gigantes da tecnologia —, Fundos de investimento e gestores institucionais já redesenhavm suas estratégias, considerando um segundo mandato Trump.
Empresas com forte exposição internacional, como Apple, Tesla e Nike já estão sendo severamente afetadas por tarifas mais altas, tanto na importação de insumos quanto na exportação de produtos. Por outro lado o dólar pode perder sua hegemonia, pois depende da conta corrente com os mesmos países “sancionados” pelo tarifaço mundo afora
E pra piorar ainda mais, o objetivo de Trump de proteger o parque industrial americano poderá não se concretizar por dois motivos óbvios:
Insumos importados mais caros para a produção devido ao tarifaço e por outro lado a quebra de confiança generalizada dos investidores numa política que pode recuar com o provável giro de 180º caso os Democratas voltem em 2028
Protecionismo x crescimento
Especialistas alertam que o protecionismo pode comprometer o crescimento no médio e longo prazo “porque tende a reduzir a competitividade das empresas americanas e encarecer os produtos para o consumidor final”, afirmara a economista Wendy Cutler, ex-negociadora comercial dos EUA antes das eleições 2024.
Brasil – Petróleo ladeira abaixo sob retaliação da China aos EUA; Petrobras cai 6% e Brava perde 12%
Os preços do petróleo caíram até 8% nesta sexta-feira, chegando ao nível mais baixo desde os tempos nefastos da pandemia de 2021. Mas por quê? Essa escalada da guerra comercial global entre Estados Unidos e China, devido as tarifas impostas por Donald Trump ao longo da semana.
Em resposta direta às ações do presidente norte-americano, a China anunciou que aplicará tarifas extras de 34% sobre todos os produtos importados dos EUA, a partir de 10 de abril. A reação do chinês acendeu um alerta mundial: outros países também começam a desenhar medidas de retaliação, diante do maior aumento tarifário norte-americano em mais de 100 anos.
E Macron, Presidente da França, vai além, pretende boicotar Trump. Uma menção direta ao Presidente dos EUA
O reflexo foi imediato. Os contratos futuros do petróleo Brent desvalorizavam 7,60%, sendo negociados a US$ 64,81 o barril por volta do meio-dia, horário de Brasília. Já os futuros do WTI, referência norte-americana, recuavam 8,45%, chegando a US$ 61,29. Nesses momentos de tensão global o petróleo é a primeira vítima pra derrubar depois toda a cadeia produtiva em cascata.
Um cenário a ser observado
Donald Trump se tornou o grande fator de instabilidade Global. Wall Street sabia disso — que não seria só pelas tarifas, mas pelo estilo imprevisível de um presidente que prefere o confronto à diplomacia.
Se os mercados ainda estavam celebrando uma tímida recuperação, podem guardar o champanhe. A festa acabou!